domingo, 30 de maio de 2010

Anchieta: Depoimento e IV Expo Memória na Barra do Jucu


Já é tradição o Teatro da Barra/ES recepcionar os andarilhos dos Passos de Anchieta. No próximo dia 3 de junho (quinta-feira), às 15 horas o grupo teatral estará na Praça Pedro Valadares, na Barra do Jucu, com a apresentação da peça Anchieta: Depoimento.
Os caminhantes pernoitarão no balneário de Vila Velha antes de continuarem seguindo a trilha percorrida pelo beato, que viveu por muitos anos no Brasil para exercer atividade missionária juntos aos nativos desta terra.

Durante a passagem dos andarilhos pela Barra do Jucu, o grupo de teatro também abrirá sua sede para visitação, marcando a 4ª edição da Expo Memória Teatro da Barra/ES (exposição de fotos e documentos do teatro capixaba). Os horários para visitação serão das 13 às 14 horas e das 17 às 19 horas. A sede do grupo está localizada na Rua Antonio Leão, nº 114.

O espetáculo, escrito pelo diretor teatral Paulo DePaula, alia aspectos do teatro anchietano ao contemporâneo. Trata-se de uma volta às raízes, pois foi aqui que o Padre José de Anchieta escreveu grande número de suas peças, encenando-as em frente às Igrejas, nas ruas e nas praias. O beato também fez questão de utilizar elementos indígenas, como música, dança e símbolos culturais, especialmente aqueles que se identificam a prédica da luta entre o bem e o mal.

Anchieta: Depoimento conta com a participação especial da Banda de Congo Mirim Tambor de Jacaranema.


Anchieta
O beato Padre José de Anchieta nasceu na Ilha de Tenerife em 1534. Filho de espanhol e ilhoa, estudou em Coimbra, Portugal. Viveu no Brasil dos 19 aos 63 anos e trabalhou em todos os campos (foi cozinheiro, artesão, professor, linguista, poeta e enfermeiro).

A peça Anchieta: Depoimento é dedicada ao povo do Espírito Santo, local de escolha do beato para passar seus últimos dias. Com este trabalho, o Teatro da Barra/ES pretende homenagear a memória do Padre José de Anchieta, que se referia ao Espírito Santo como “Nossa Terra”.


Ficha TécnicaTexto e direção artística: Paulo DePaula
Figurinos e adereços: Zeiza Jorge
Máscara e tela: Kleber Galvêas
Cenário e sonorização: Valmir Zatta
Participação especial: Banda de Congo Mirim Tambor de Jacaranema.

Elenco
Anchieta – Paulo DePaula
Dona Luisa – Dulce Lodi
Frei Pedro Palácios – Jaime Nilson
Narrador – Vitor Zucolotti
Capitão – Newton Raposo
Anhangá/ Cunhã Aia – Roberta Soares
Verônica – Anita Bonadiman
Curumim – Joseph Victor
Mariquinha – Liliana DePaula
Serviços:Peça Anchieta: Depoimento
Na Praça Pedro Valadares, Barra do Jucu
Dia 3 de junho de 2010 (quinta-feira)
Às 15 horas

IV Expo Memória
Na Sede do Teatro da Barra/ES
Rua Antonio Santos Leão, 114, Barra do Jucu
Das 13 às 14 horas e das 17 às 19 horas

Mais informações:Teatro da Barra/ES: 3260-1146

quarta-feira, 5 de maio de 2010

ED&PO

Resenha - Teatro

Por Paulo DePaula

ED&PO é uma adaptação, da tragédia Édipo Rei, de Sófocles, por Leda Barreto, que, após receber o Premio Myriam Muniz, teve sua estreia dia 23 de abril de 2010, no Dispensário São Judas Tadeu, na Prainha de Vila Velha, ES. O local, desde os anos de 1970, tem apoiado o movimento teatral, tendo sido sede para convenção da FECATA, ensaios, workshops e apresentações de vários grupos do Estado.

Remodelado, o espaço tornou-se perfeito para a concepção cênica da diretora Leda Barreto. Com uma tela chinesa ao centro, ladeada por degraus que foram perfeitamente adequados às entradas e saídas dos atores, que desciam ou subiam sempre pautados por sons (que nos levavam aos mitos e à religiosidade) de um tambor colocado no centro da baixa do palco. Às vezes as subidas e descidas desses degraus eram feitas com tal agilidade e precisão, que pareciam seis, e não apenas três atores em cena. Aliás, uma opção muito inteligente de Leda para a encenação. Lembra-nos que foi Sófocles que introduziu o trigonista – ou o terceiro ator – à tragédia, como foi ele também que elevou de 12 para 15 o número de coreutas (membros do coro).

Nesta produção os três atores iniciam a tragédia com máscaras. Após identificação, tanto Édipo Rei (Reginaldo Secundo), como Jocasta, mãe e esposa de Édipo (Leda Barreto), são também vistos sem a máscara. Já o trigonista, Ednardo Pinheiro, jamais retira a máscara e reflete tanto personagens específicos, como o coro, a voz do povo.

A estreia deu-se para uma plateia de aproximadamente 40 pessoas, na maioria jovens (o programa diz ser a peça destinada a um público maior de 12 anos). Numa plateia jovem e curiosa sobre Édipo Rei, o que se notava nas conversas da fila – onde se ouvia o nome daquele grande herói trágico da Grécia de quase 3.000 anos antes de Cristo – é que ele era conhecido por essa nova geração, que sabia ter sido ele o responsável pelo “complexo de Édipo”, da psicanálise.

Édipo, filho do Rei Laio e Jocasta, fora banido do reino logo ao nascer, devido a uma previsão de que aquele filho seria o assassino de seu pai e se casaria com sua mãe. Os reis queriam-no morto, porém o criado o salvou. Adulto, Édipo volta ao Reino (Tebas) e toda a profecia acontece, desde a morte de Laio, em um confronto na estrada, ao casamento com Jocasta, após decifrar o enigma da Esfinge.

Totalmente inocentes, pois jamais poderiam supor quem realmente eram, cometeram incesto e tiveram filhos. Só depois é revelada a verdade que culmina com a tragédia.

Enquanto me pareceu muito adequado o uso da tela chinesa para o suicídio de Jocasta, senti falta de situação semelhante para Édipo, que não é visto, apenas ouvido (em excelente interpretação de Reginaldo) em seus gritos lancinantes de dor, enquanto vaza seus olhos com alfinetes retirados dos trajes de sua mãe/esposa morta.

Este vazar dos seus próprios olhos se reveste de uma realização da função de exemplo e esta visão poderia ser passada, quando, após a luta consigo mesmo, Édipo fosse visto com a missão cumprida, através de sua máscara com os olhos dilacerados.

A tragédia grega nos apresenta uma visão de que o indivíduo não existe, pois o poder dos deuses é irreversível e a função do homem, regida por eles, é inexorável. ED&PO não pode deixar de ser visto. Em aproximadamente 50 minutos a plateia volta à Grécia e reconhece nela as mazelas dos dias de hoje, visita oráculos e ouve o conversar de Esfinge e lamúrias do povo. São dias de glória e devastação. Com sua fé inabalável, Édipo procura e encontra a verdade: a tragédia da vida de ser ele, o ser que ele procurava.

A ACAC (Associação Cultural de Artes Cênicas) e os atores Leda Barreto, Reginaldo Secundo e Ednardo Pinheiro conseguiram – com adereços de Adriano Carraretto e expressão Corporal de Marcelo Ferreira – que a peça se desenvolva num fluir que envolve e satisfaz o público.

Sem dúvida sua carreira será longa. Fiquem de olhos abertos. Novas apresentações já estão sendo agendadas na Aliança Francesa, Vitória, e Academia de Letras Humberto de Campos, Vila Velha. Se ouvir falar que ED&PO está no pedaço, reserve seu espaço. Vale a pena ver.

Programação:
Dias 14 e 15 de maio, às 20 horas, na Fafi.

Dia 16 de maio, às 18 horas, na Academia de Letras Humberto de Campos, Prainha, Vila Velha.

Dia 22 de maio, às 19 e às 21 horas, na Aliança Francesa de Vitória.