sábado, 19 de setembro de 2015

Agosto, com muito gosto


Por Paulo DePaula

No mês de agosto de 2015, Vila Velha foi palco de duas excelentes produções: no dia 6, na Barra do Jucu, no palco ao ar livre do Cais da Barra, a Cantatriz Monique Rocha apresentou O Canto da Guerreira, sua homenagem à cantora Clara Nunes, com direção de cena de Nysio Chrysóstomo e direção musical de Leandro Cera, cenário de Zeiza Jorge e iluminação de Sebaba Rodrigues. Esta versátil produção encheu os olhos dos espectadores – casa cheia – e foi um bálsamo naquela noite fria de final de inverno.

Dia 15, o espetáculo pulou para o Theatro Carlos Gomes, em Vitória, e repetiu o sucesso que alcançou na Barra, para um público muito maior e com a participação do conhecido cantor capixaba Papo Furado e o DJ Charlie Jr., tocando sambas e suas vertentes.

Admiramos sempre a atuação de Monique – ora em apresentações do Auto de Frei Pedro – como a Dona do Cabaré de Lisboa, com a sua distribuição de vinho, seu humor e música para os fregueses, marujos do século XVI, assim como no Centro Cultural Carmélia, atuando e cantando na luta pela liberdade dos escravos na peça Chico Prego que retrata a insurreição de Queimados quando a estes, em 1850, foram prometidos pelo pároco local sua alforria se completassem a construção do templo na região de Queimados, então parte da Vila da Serra, ES, e não viram a promessa ser cumprida – o Padre alegou que a liberdade seria “para suas almas” –, o que resultou numa rebelião. O que seria uma festa pela sua libertação, liderados por Chico Prego, os escravos se rebelaram, e o líder, condenado à forca, como Tiradentes, teve seu corpo esquartejado.

No espetáculo O Canto da Guerrreira, Monique apresenta também, além dos passos na vida da cantora Clara Nunes, o seu lado místico, com sua crença nos orixás bem captada em seus trajes e nos estandartes de Iansã e Oxum, seus orixás guias. Belo espetáculo em agosto, com gosto de “quero mais”.

Já no dia 29 de agosto, no palco da Academia de Letras de Vila Velha, com direção e participação de Janine Pacheco, do grupo Cantadores de Histórias, e das atrizes Helena Penteado, Sonia Fontes e Elaine Vieira, com texto de Maria Lúcia de Barros Mott, a intrigante peça Retrato de Mulher, sucesso absoluto de público na estreia desse espetáculo que promete outras apresentações e merece ser visto onde quer que seja apresentado.


Grande surpresa para a plateia que compareceu à estreia de Retrato de Mulher no auditório da Academia de Letras de Vila Velha, dia 29 de agosto de 2015, foi esta apresentação teatral que indaga e responde o que “as mulheres realmente querem”. Não satisfeitas apenas com os diálogos apresentados, a diretora Janine Pacheco sabiamente criou uma interatividade com a plateia que resultou, no final da apresentação, numa participação de grande número da audiência com mensagens escritas, ou desenhos representativos do seu reflexo às questões e declarações das mulheres que representavam as mulheres brasileiras destes pouco mais de 500 anos de sua “descoberta”.

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