Em 1987 completei as exigências para meu Mestrado em Artes (Truman University) com uma tese sobre o Teatro Cubano no Exílio. Desde que conheci o movimento teatral cubano de Miami fiquei impressionado com sua vivacidade e com o fato de os cubanos haverem mantido sua tradição teatral nos Estados Unidos. Aprovado meu projeto e com o propósito de realizar a tese, passei a visitar Miami para conhecer melhor as obras, grupos teatrais, atores e autores que lá residiam. Entre os trabalhos que conheci, trouxe, para encenação no Espírito Santo, a peça “Jogo de Damas”, de Julio Matas, que com o grupo do Niac/Ufes, recebeu várias indicações: atriz, Ana Lucia Junqueira; cenário, Celso Adolfo; direção, Paulo DePaula e Ary Roaz, e prêmio de melhor atriz para Alcione Dias no Festival Nacional de Teatro Universitário de Blumenau. Em Leitura Dramática no Departamento de Letras/Ufes, com Lillian DePaula e Sylvia Cohen, apresentamos, de Dolores Prida, a peça bilíngue “Coser y Cantar”, na qual a autora (que nasceu em Cuba e foi criada nos Estados Unidos) apresenta sua dualidade e conflitos pessoais.
Com o Grupo Prometeo – fundado e dirigido por Maria Teresa Rojas, grande atriz dos palcos cubanos e, no exílio, professora e diretora do curso de Teatro Bilíngue do Miami Dade College – assistimos à leitura de “A Navalha de Olofé”, de Matias Montes Huidobro, que muito nos tocou devido ao relacionamento que percebemos entre o sincretismo religioso de Cuba e do Brasil – a mescla entre a “Santeria” e o “Catolicismo”. Essa peça foi também dirigida por nós para apresentação pelo Niac/Ufes, com os atores Alex Pandini e Alcione Dias e fez parte da programação do Festival Nacional de Teatro Universitário de Blumenau.
Justamente durante a leitura dessa peça, pelo Teatro Prometeo de Miami Dade, tive a oportunidade de conhecer o ator-diretor Mario Ernesto Sanchez. Fundador do Teatro Avante. Seu sonho era fazer de Miami um celeiro de dramaturgos e atores exilados, uma Meca do teatro hispano e bilíngue. Buscando todos os recursos, conseguiu reunir as forças necessárias para produzir o I Festival de Teatro Hispano de Miami, em 1985.
Mario Ernesto Sanchez, Diretor do Teatro Avante e do Festival Internacional de Teatro, Miami |
Foram várias as facetas desse Festival, como a presença da Espanha com funções de concerto de jazz e diferentes apresentações de artistas, como uma afirmação dos 500 anos de contribuição da Espanha na vida da Flórida. O encerramento do Festival, dia 28 de julho, de fato apresentou o Grupo Musical espanhol Ron Lala Teatro com a peça musical “Siglo de Oro, Siglo de Ahora”, de Álvaro Tato, com direção de Yayo Caceres, que nos reportou ao Teatro da Barra/ES e nossa participação com “Auto do Tumulo de Anchieta”, de Luis Guilherme Santos Neves, durante o Congresso Internacional do Século de Ouro do Teatro Espanhol, no segundo semestre de 2012, na Ufes, sob coordenação das Professoras Drª. Ester de Oliveira e Mirtis Caser.
Grupo Lala Teatro, da Espanha e o musical “Siglo de Oro, Siglo de Ahora”, um musical homenageando os 500 anos da presença espanhola na Flórida |
Entre os muitos países representados esteve o Brasil, com o Teatro Voador da Bahia e a peça “Salmo 91”, escrita por Dib Carneiro Netto, baseada na obra sobre O Massacre de Carandiru, de Drauzio Varella. Dentre os países da América do Sul, o Chile não conseguiu enviar sua representação e o país homenageado por sua contribuição ao teatro ibero-americano e pelos seus 192 anos de independência, o Peru, não conseguiu visto para todos os seus atores, o que não impediu que sua apresentação de ‘Los Rios Profundos” fosse menos brilhante, embora o final da apresentação fosse uma leitura dramática, para preencher a lacuna dos atores ausentes. Uma adaptação do diretor Ernesto Raez Mendoza do romance de José Maria Aguedas, a obra procura mostrar a atual identidade peruana através da miscigenação entre os índios quechua e os espanhóis. No encerramento, o diretor Raez Mendoza recebeu do Festival o prêmio de “Life Achievement” e exclamou ao público que “o teatro é um esforço coletivo”.
“Salmo 91”,peca da Cia de Teatro Voador, Bahia, no XXVIII Festival Internacional, Miami,2013 |
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